sexta-feira, 15 de maio de 2009

Nada

Observa o copo tombado que derrama o veneno que te corre nas veias, enquanto o cinzeiro absorve todas as cinzas que um dia foram fogo.
A luz que nos cega de mentira, faz-nos procurar a escuridão que nos anestesia de verdade. Como escravos do destino, continuamos a caminhar as mesmas estradas de pó, até os nossos pés estarem suficientemente feridos, até as forças se esgotarem e nos atirarem para um canto frio a que chamamos Solidão.
O tempo corre, foge, como o fumo carregado de podre ódio. A vida são os dois dias que desperdiçamos a caminhar as estradas infinitas que nos levam a lado nenhum.
Queremos para libertar, deixamos para não largar.
Sentimos mas não preocupamos.

Gostamos de morrer! Somos o tudo que traduz o nada!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

É como se o tempo não me deixasse continuar, como se o relógio descansasse os ponteiros deixando-os morrer para sempre, como se tudo acabasse no momento em que estávamos determinados a perder tudo por um beijo…
Lembro-me de ouvir cada passo teu que se coordenava com o bater ansioso do meu coração, que se tornava mais forte á medida que te aproximavas, enquanto eu mantinha os olhos no chão e contava todas as pequenas pedras como quem conta os segundos do relógio.
Um toque de uma mão gelada na minha, fez-me perder a conta ás pedras, esquecer os segundos, esquecer o mundo. Num gesto bruto, e um tanto irresponsável, abracei-te com a força de uma ‘’última vez’’. Após tanto tempo, sentia presente o teu respirar ofegante, o toque suave dos teus negros cabelos que contrastavam com o ameno perfume da tua pele.
A luz do sol já se consumia no horizonte, voltei a sentir o toque gelado da tua mão na minha, desta vez mais violento, os teus dedos entrelaçaram-se nos meus, como se formássemos um só, o silêncio tornou-se os versos que citávamos sem saber, compondo o mais belo poema alguma vez vivido. Os teus olhos fitavam os meus como duas chamas serenas que devoravam a noite.
Como se o tempo tivesse quebrado a corrente rotineira dos ponteiros do relógio, nada mais existia para além de um mundo de sombras paralelo a nós.
Sentia o teu leve respirar, as tuas doces palavras indefinidas no meu ouvido, enquanto o teu corpo se aproximava lentamente do meu. Instintivamente todos os pensamentos foram-se apagando enquanto uma explosão de sentimentos era partilhada pelo quente e puro toque de um beijo proibido. Sentíamos o perigo, mas não queríamos desistir…

sábado, 9 de maio de 2009

(In)

Indestrutíveis! Dizíamos ser indestrutíveis, como fortes de pedra maciça, que guardavam um cofre de infinitos desejos que levaríamos connosco para a imortalidade.
Inocentes! Inocentes promessas feitas á sombra de dois ingénuos espíritos. Do fogo, regressamos como as cinzas arrastadas pelo vento, que nos ferem o olhar penoso que carrega o peso da existência.

(A morte está apaixonada por nós…Deixa a paixão morrer connosco.)
Fumo negro, carregado de mentiras, gritos esquecidos e olhares escondidos que forçam as entradas, que quebram as correntes do coração.
Limito-me a sangrar, a sentar-me e a observar as almas perdidas que vagueiam na noite que se cobre de silêncio.
O sangue que se espalha no asfalto, abandonado, calcado, dá forma a cada passo, a cada caminho.
Cem caminhos para sete vidas, cem probabilidades de sorte para sete anos de azar.
Num gesto imperturbável, volto as costas…
-Prefiro viver cada segundo de morte, que morrer a cada segundo de vida!
Sou o bêbedo das sombras, o isolado da vida
De garrafa vazia na mão, arrasto o meu corpo, agora morto, até á tua porta.
Comigo carrego as feridas das memórias e as hemorragias constantes do meu coração.
Embebedo-me de vazio, enquanto observo atentamente cada traço da palma da minha mão.
-Cego!
Ergo as mãos ao céu, como um inconsciente acto de desespero:
-Vem matar-me Solidão!