Como é perfeita esta prisão que me acolhe, como são divinas as suas densas paredes cimentadas, como é encantador este fedor a sacrifício… Como é quente esta chama, já quase extinta, do meu olhar.
Esta agonia, este girar de contradições… E que doce é a demência!
Atira-me a venda, empurra-me por um assustador corredor, acorrenta-me, murmura-me vocábulos recheados de veneno… Chicoteia-me de esperanças, venda-me mais uma vez! Obriga o meu corpo a provar o sabor dos teus lábios, do teu calmo inferno!
Venda-me mais uma vez e seguir-te-ei na minha morte na vida.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
domingo, 14 de fevereiro de 2010
Metro de Paris
Estou no metro de Paris, sentada ao lado de um cadáver adormecido e diante de duzentos rostos indecisos. Seguro uma revista nas mãos e deparo-me com um bailarico de letras que se cruzam aos meus olhos. Sinto um peso colossal na cabeça e uma suave escuridão esconde-me a paisagem.
Encontro-me sentada a um canto de um cubículo fétido, ao meu lado uma garrafa quebrada, um cinzeiro vazio e um seco cigarro que morre na minha mão… Na cabeça reproduzem-se imagens desmaiadas, e no coração flutua uma dúvida perdida.
- Está aí alguém? Olá?
As paredes do cubículo quebram! Instintivamente, ergo as mãos á cabeça, na esperança de me oferecer alguma segurança.
Encontro-me sentada sobre um pano branco. Sinto-me oca, escassa… Tal como a escassez de qualquer tipo de corpo nesta estranha dimensão. Levanto-me, e após um duro passo sinto o plano sob os meus pés escapar… Sou impulsionada para o infinito enquanto uma forte sacudidela me embala…
Avisto uma paisagem e um humilde rosto que num gesto impaciente me tenta acordar.
Estou no metro de Paris e abandono-o na próxima paragem.
Encontro-me sentada a um canto de um cubículo fétido, ao meu lado uma garrafa quebrada, um cinzeiro vazio e um seco cigarro que morre na minha mão… Na cabeça reproduzem-se imagens desmaiadas, e no coração flutua uma dúvida perdida.
- Está aí alguém? Olá?
As paredes do cubículo quebram! Instintivamente, ergo as mãos á cabeça, na esperança de me oferecer alguma segurança.
Encontro-me sentada sobre um pano branco. Sinto-me oca, escassa… Tal como a escassez de qualquer tipo de corpo nesta estranha dimensão. Levanto-me, e após um duro passo sinto o plano sob os meus pés escapar… Sou impulsionada para o infinito enquanto uma forte sacudidela me embala…
Avisto uma paisagem e um humilde rosto que num gesto impaciente me tenta acordar.
Estou no metro de Paris e abandono-o na próxima paragem.
sábado, 13 de fevereiro de 2010
Acto Pausado
São nove horas e trinta e oito minutos. Pela casa corre um leve aroma a café combinado com um ligeiro estalar das tostas quentes, cobertas de uma suave camada de manteiga. Duas doses de açúcar e o tilintar de uma colher teimosa.
Na janela, o chilrear de dois pássaros enamorados, um raio de sol soalheiro que esfarrapa a cortina.
São nove horas e quarenta e um minutos. Pela casa corre um eco agitado de um silêncio tranquilo.
Na cadeira repousa, solitário, um corpo ensonado. Na mesa dança a mão ansiosa que tenta acompanhar a correria rotatória da colher, na mesa jaz uma mão carregada de pensamentos.
São nove horas e quarenta e quatro minutos. O ruído furioso da cidade tenta provocar inveja ao silêncio, a cabeça carrega a culpa do dia anterior e do seguinte… As tostas estão a arrefecer.
São nove horas e cinquenta minutos. A chávena está quase vazia e a colher recolheu ao seu descanso. Ambos os braços se agitam no ar indignadamente, como se desafiassem o infinito. A chávena tomba e o restante café espalha-se sobre a mesa. O corpo mole ergue-se, deixando cair a cadeira…
São nove e cinquenta e dois minutos. Suspiro:
-Maldita mosca!
Na janela, o chilrear de dois pássaros enamorados, um raio de sol soalheiro que esfarrapa a cortina.
São nove horas e quarenta e um minutos. Pela casa corre um eco agitado de um silêncio tranquilo.
Na cadeira repousa, solitário, um corpo ensonado. Na mesa dança a mão ansiosa que tenta acompanhar a correria rotatória da colher, na mesa jaz uma mão carregada de pensamentos.
São nove horas e quarenta e quatro minutos. O ruído furioso da cidade tenta provocar inveja ao silêncio, a cabeça carrega a culpa do dia anterior e do seguinte… As tostas estão a arrefecer.
São nove horas e cinquenta minutos. A chávena está quase vazia e a colher recolheu ao seu descanso. Ambos os braços se agitam no ar indignadamente, como se desafiassem o infinito. A chávena tomba e o restante café espalha-se sobre a mesa. O corpo mole ergue-se, deixando cair a cadeira…
São nove e cinquenta e dois minutos. Suspiro:
-Maldita mosca!
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